sexta-feira, 27 de março de 2009

Noite dos mortos vivos, Romero 1968

No decorrer dos anos 60, dois cineastas totalmente independentes e à margem dos grandes estúdios foram particularmente inovadores. Herschell Gordon Lewiks, cujo Blood Feast, 1963, e 2000 maniacs, 1964, engendrarão a moda do “gore” ( fantástico sanguinolento radicalizado com uma complacência mesclada de humor até os extremos limites da repugnância) e Georges Romero, cujo Noite dos mortos vivos, variação contemporânea sobre o tema do zumbi, marca uma espécie de intrusão bem eficaz do realismo no fantástico mais horrífico. Quatro elementos principais darão ao filme sua força e originalidade: 1) a condensação da ação e da duração no seio de um crescendo dramático constante; 2) a intervenção permanente na intriga das mídias ( rádio, tv); 3) utilização conjunta da audácia visual ( ponto comum com Herschell Gordon) e da discrição nas cenas sanguinolentas; 4) recusa das convenções e clichês em uso no gênero.
Ao invés do happy end corrente, o filme acaba em um mal-entendido sangrento que radicaliza ainda mais, de um modo irônico,o horror de tudo o que já fora mostrado.Por estas diversas razões, o filme provocou em eu lançamento uma surpresa e mesmo certo escândalo, que acentuou seu sucesso. Em relação à audácia visual, ela está muito distante da complacência grand-guignolesque e guignolesque estrita dos filmes de H. Lewis. Ela é justificada pelo rigor da intriga e pelo ciclo infernal onde embarcam todos os personagens. Aliás, a influência exercida pelos dois cineastas não foi igual. A de Lewis, de qualquer forma irrecuperável no plano estético, foi muito maior, e suscitou por um longo período ( que dura até hoje) uma degenerescência do filme fantástico e de horror, ilustrada por exemplo por um filme como Massacre da serra elétrica, Tobe Hooper, 1974. ( A notar que esta degenerescência se dá paralelamente a uma revitalização do cinema de ficção científica, até meados dos anos 70).
Apesar de ter relançado o tema do zumbi, a lição realista de Romero ficou, por assim dizer, sem eco, e mesmo seus filmes seguintes não estiveram à altura deste rascunho de mestre, realizado com um orçamento irrisório.
Jacques Lourcelles
Tradução: Luiz Soares Júnior.

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